Adolescente crescida na igreja, pais religiosos até o último fio de cabelo e salmo 24 aberto na estante da sala. Minha vida sempre se resumiu em ir à igreja, participar das programações da igreja, andar com os amigos da igreja, usar roupas como as meninas da igreja usavam... Nunca tinha conhecido outro mundo que não fosse aquele, de crianças bem cuidadas que iam a Escola Dominical todo domingo e cantavam hinos dos personagens do velho testamento nos cultos vespertinos.
Mas aí... eu cresci. E comecei a ver que talvez ir a uma festa que tocava umas músicas mais “agitadas” fosse mais legal do que ir a um culto. Comecei a pensar que a vida dos meus amigos do colégio que não eram cristãos, era mais divertida do que a minha. Quando comecei a abrir minha mente para que esse tipo de pensamento entrasse, não teve mais volta, me tornei uma garota revoltada com tudo, ia a igreja praticamente obrigada e quando ia por livre e espontânea vontade, era porque tinha algum evento jovem. Ou seja, eu usava a igreja mais como um clube social, do que como a casa de oração e adoração ao nosso Deus, um lugar que eu deveria ir para me achegar primeiramente dEle e depois das pessoas.
Tudo aconteceu sem eu perceber direito. Num pulo, todas as minhas atitudes e meus pensamentos tinham mudado, eu mentia para meus pais, ia à igreja, mas ao mesmo tempo ia a festas mundanas me acabar em dançar; em lugares que só tinham bebidas, cigarros e todo tipo de droga e pessoas com nenhuma influência positiva. As músicas que eu escutava mudaram, meu palavreado mudou; em minha boca começaram a passear palavrões e palavras indecentes, me entreguei a ideais conturbados e pervertidos do mundo, e ficava com muitos garotos, uns até na mesma noite. Cheguei até a duvidar da existência de Deus, não ligava pra que os meus líderes diziam, porque afinal, eu também via a maioria dos adolescentes da minha igreja praticarem as mesmas coisas que eu, e uns até coisas piores. Porque mudar, se todos eram daquela maneira?
Mas eu estava enganada. Tinha sido contaminada pelo veneno do pecado e minha vida estava caminhando para um poço escuro, sujo e triste. Eu achava que a felicidade se encontrava em quantos meninos pediam pra sair comigo, ou em quantas festas eu ia por mês. Achava que quando estivesse triste, era só receber um elogio de alguém bonito e influente, que minha auto estima voltaria ao normal e que tudo ficaria bem. Eu entendia que pra ter uma vida de felicidade, eu tinha que estar rodeada de amigos que me bajulassem e que falassem que me amavam. Eu estava redondamente enganada, quando criei uma espécie de ampola de vidro em volta de mim, achando que eu era a mais bonita, a mais legal, a mais inteligente, a mais querida, a mais amada, a mais admirada.
Mas Deus me ensinou que quando nos reduzimos ao pó, a nada, nos esvaziamos e varremos o orgulho pra fora da nossa vida, aí sim é que estamos mais perto da felicidade. Porque a felicidade é amar a Deus, é viver para Ele, e não tem como amar a Deus se estivermos cheios de nós mesmos, nos achando o máximo, achando que estamos por cima da cocada preta, né?
Numa noite fresca de fevereiro, enquanto dava uma volta pela praça da cidade, que estava cheia de turistas, por ser feriado, encontrei umas colegas. Eram duas garotas totalmente perdidas, que faziam as maiores loucuras, que frequentavam locais suspeitos, que já tinham se envolvido até com homens casados e carregavam nas costas grandes fofocas e olhares de menosprezo da maioria dos moradores da cidade. Elas eram daquele tipo de jovens que ninguém dá nada por eles, que todos que se dizem “direitos” desprezam e que se julga ser impossível mudarem de vida.
- Oi! – Uma delas disse, abrindo um sorriso tão bonito que eu até fiquei constrangida, após o sorrisinho meia boca que eu tinha dado a elas.
- Você se lembra de nós? Quanto tempo não nos vemos!
“É impossível esquecer de vocês depois do tanto que aprontaram nessa cidade...” – pensei - É... lembro de vocês sim. E aí, o que andaram fazendo nesse feriado? Pegaram muitos gatinhos?
As duas se entreolharam e abriram um enorme sorriso, acompanhado de um olhar cúmplice. Fiquei sem entender nada.
- Nós não “pegamos muitos gatinhos” não, nós nos encontramos com o MELHOR homem que qualquer pessoa poderia se encontrar!
Minha expressão confusa deveria ter sido tão explícita, que elas logo trataram de se explicar.
- É que nós... – Uma delas começou a dizer, mas a outra logo a interrompeu.
- Espera ai, antes nos diga uma coisa: como foi o seu feriado?
- Ah.. foi... foi.. - Eu estava procurando algo convincente para falar, porque eu não ia dizer que passei o meu feriadão num retiro da igreja, né? Ia ser comprar um bilhete para a zoação de todos os meus colegas e amigos, já que aquelas duas conheciam praticamente todos da cidade, e o mais importante: os garotos mais bonitos e populares eram amigos delas! Não podia dar esse mole.
- Ah.. eu não fiz nada demais.
- Poxa vida! O nosso foi tão incrível!
- Em qual festa vocês encontraram esse tal “homem maravilhoso” ein?! – Ri.
- Não foi em festa nenhuma, Natasha. Nós passamos o feriado num retiro! Você já deve ter ouvido falar de igrejas cristãs que organizam retiros em feriados, não é? Poxa, esses retiros são tão bons! Foi lá que encontramos o homem mais lindo e magnífico de todo o mundo! E nós nem brigamos por ele, viu. Porque eu aceito que ao mesmo tempo em que Ele seja meu, Ele também seja da minha amiga e de todas as outras mulheres e homens do mundo! O nome dele é Jesus! Você tem que o conhecer, Natasha. Ele deu a Sua vida por mim, por você e por todos os moradores da Terra! Ele nos ama tanto, que se entregou por nós numa cruz, para que hoje nós vivamos uma vida repleta de amor e felicidade. A partir do momento que reconhecemos que só Ele pode nos fazer viver DE VERDADE, nós não quisemos outra pessoa, outro deus, outra forma de felicidade – na verdade, outras formas não existem, porque só Ele traz a verdadeira paz e alegria. Agora nós estamos indo na mesma igreja que promoveu o retiro e queríamos te convidar para visitá-la conosco. A igreja é ótima e tem pessoas super divertidas que vão te acolher com o maior amor, fora que se você aceitar terá o maior amor que o mundo já viu, o de Jesus Cristo!
Perplexa. Surpresa. Embasbacada. Foi assim que eu fiquei quando terminei de ouvir tudo aquilo. Na hora me bateu uma vergonha que eu não sei explicar, meu coração bateu forte e eu fui obrigada a baixar a cabeça. Eu vivi a vida inteira na igreja e nunca tive a coragem que aquelas meninas tiveram; tinha vergonha até de dizer que eu frequentava uma igreja, e elas que haviam acabado de conhecer a Cristo já iam espalhando as boas novas assim, de maneira tão espontânea e feliz. Reconheci naquele momento que na verdade, eu nunca tinha me encontrado com Cristo realmente, só com a religião. Eu nunca havia permitido que o amor de Deus entrasse em mim pra mudar, pra transformar. Naquele dia eu reconheci que não basta ir à igreja, tem que se encontrar com o amor de Deus. De religiosos o mundo já está cheio, o que falta são pessoas que realmente tenham se encontrado com Ele!
A partir daquele dia eu comecei a buscar a Deus de verdade, e aos poucos, Ele foi se mostrando a mim. Ouvir as mensagens do pastor já não era mais chato e a vergonha de dizer que sou de Cristo, não fazia mais parte do meu vocabulário. Vergonha eu passei a ter sim, mas de não anunciar o amor de Jesus, vergonha de ir a certos lugares, vergonha de pronunciar certo tipo de palavra. Busquei e continuo buscando a Deus de toda a minha força e entendimento, minha vida hoje, é uma vida para adorá-lo em todos os aspectos. Ainda tenho muito o que mudar, mas sei que o principal já está transformado, que foi o de se encontrar com o maior amor do mundo, o de Cristo Jesus.
Não quis ficar calada e aceitar que os adolescentes da minha igreja estivessem na mesma situação em que eu me encontrava e assim, tratei logo de mostrar a eles a diferença que se tem em ir à igreja e ter uma vida transformada. Através de mim, aquelas pessoas começaram a ver um novo lado do ser cristão.
E com isso tudo eu quero te dizer que, não importa quanto tempo de conversão você tenha. Não importa se tem duas semanas ou vinte anos, o que importa é o seu encontro com Jesus a cada manhã, o seu testemunho e a sua maneira de demonstrar e falar do amor de Deus. Deus não está ligando se você tem 15 ou 50 anos, Ele realmente está se importando com a sua responsabilidade para com Ele, e para com as pessoas ao seu redor, aquelas que precisam tanto do amor do Pai. Eu aprendi com aquelas duas meninas que não importa o que você tenha feito no passado, porque o sangue de Jesus nos limpa de tudo, até da “má fama”. E ao passar do tempo, as pessoas vão ver a sua diferença e vão ver que realmente, o amor de Deus é capaz de perdoar e mudar absolutamente TUDO.