Era cedo e a cidade estava uma loucura. Pessoas andando depressa, motoristas cada vez mais impacientes com os sinais vermelhos, ônibus lotados de pessoas indo trabalhar, lojas abrindo, trens a cada parada lotando mais..a cidade num ritmo normal de qualquer dia. Milhares de pessoas movimentando a cidade, e milhares de pessoas se relacionando friamente umas com as outras. Cada um correndo atrás do seu pão, do seu melhor lugar, do seu seu seu.. e aí muito facilmente criamos a chamada Massa. É mais fácil do que se imagina, e talvez um mecanismo natural olhar para as multidões dos metrôs e verem pessoas. Só pessoas. Mas e quando olhamos para toda essa gente e enxergamos indivíduos ao invés de um monte de gente? E quando começamos a pensar que cada uma daquelas pessoas tem sonhos, projetos, paixões não correspondidas do passado, amores no presente, algo porque chorar e algo porque sorrir? E se a gente for além e ousar ver naquelas pessoas, almas completamente desesperadas por Cristo? Todas essas pessoas da “Massa” necessitam de Cristo e se a gente vê todas elas assim, como um monte de gente sem rosto, nós perdemos belas oportunidades de ter compaixão, de se envolver na vida do outro e o mais importante: deixamos de apresentar Cristo a essas pessoas.
E foi num desses dias loucos de cidade grande que eu pude ver o agir de Deus. Quando me dispus a olhar para esses seres humanos como pessoas necessitadas de Cristo e indivíduos que Deus ama e muito, eu O vi fazendo coisas simples, mas extraordinárias.
Entrei na condução que já começava a ficar cheia e sentei-me ao lado de uma senhora. Muito simpática, nós duas trocamos algumas palavrinhas e a condução seguiu viagem. Nesse tempo, eu me cutuquei “vc não fala tanto de amor as pessoas? Prova isso agora, fala do amor de Deus pra essa mulher do seu lado” Uuul! E agora? Tentei abafar aquele pensamento, mas logo uma frase que li em algum blog sobrepôs esse pensamento, dizendo “vc vai calar a voz de Deus na sua vida? Você vai escolher não ouvi-Lo?” Pois é. Que grave. Então comecei a matutar o que poderia fazer para poder puxar papo com a tal senhora. “Poxa vida, se eu tivesse algum panfleto evangelístico na mochila, seria mais fácil de puxar assunto!” e aí foram gastos bons minutos pensando numa forma mais convincente de falar de Jesus pra senhora ao lado. Até que, de rompante, perguntei:
- A senhora mora na próxima cidade?
- Não..eu trabalho na faculdade que tem lá.
- Olha, na faculdade, que bacana! Tenho vários amigos que estudam lá.
- E você, faz qual curso?
- Ah não, eu ainda to indo pro ultimo ano do Ensino Médio.
- Mas já sabe o que quer fazer na faculdade?
- Olha, eu ainda to um pouco em dúvida, mas se eu fizer, acredito que seja Comunicação Social – e de repente, pliiiiim – mas talvez eu não faça faculdade ainda, to querendo ir pra missões, numa escola de artes da JOCUM, que significa Jovens Com Uma Missão. Eu sou cristã e quero propagar o amor de Deus.
Rará! Vai mocinha, esquentar a cabeça com uma maneira pra chegar ao assunto sobre Deus, esquecendo que Ele é quem dá os meios. Nunca ia imaginar que seria tão fácil entrar no assunto. E pelo resto da viagem se seguiu o assunto, em que descobri muitas coisas sobre a vida dessa senhora, pude ministrar de Deus a ela, que me contou sonhos, um pouco de sua vida e um assunto muito pessoal. E eu sei que a segurança que ela viu em mim pra contar aquilo não foi a segurança de uma adolescente que ela havia acabado de conhecer no ônibus. Mas não messssssmo. O que ela viu foi a segurança de um Deus que se move na vida de um filho para poder ajudar outros filhos. Foi isso que ela viu. A segurança de um Espírito que age na vida de uma adolescente que fazia poucos minutos que ela conhecia. E a segurança foi tão grande, que ao me despedir para descer no meu ponto, ela pediu meu telefone e na pressa, eu dei. Ela pediu orações por ela e pelo problema que estava passando. Ao descer do ônibus eu até pensei “vc deu seu número a uma desconhecida...” mas, graças a Deus, logo fui ao pensamento verdadeiro naquela situação “eu to aqui pra ser suporte, então, que eu seja”.
Com toda essa situação, eu pude ver o agir de Deus quando seus filhos resolvem quebrar as barreiras que os impedem de fazer tantas coisas para o Reino. Eu consegui quebrar a barreira do não me preocupar com o próximo, quebrar a barreira da vergonha..e eu nunca vou saber até onde poderão ir os ecos dessa atitude. Mas Deus sabe, e mesmo que eu nunca venha a saber, vou continuar a quebrar barreiras por aí, porque satisfação verdadeira não existe fora do que se chama vontade de Deus.