O início da marcha nupcial e todos os convidados de pé, anunciavam que a noiva já havia subido a escadaria da linda e enorme igreja e começava a dar os primeiros passos no tapete vermelho. Suian, a noiva, não podia se conter de tanta alegria e nervosismo. Suas pernas tremiam e seu coração batia forte, e acelerou ainda mais quando viu Roberto, seu noivo, no altar. Ele estava lindo, como nunca antes, seu rosto emanava alegria e seus olhos brilhavam de tanto amor. Sorriu ao lembrar-se de tudo que havia agüentado para chegar até ali, as lutas interiores, as lutas contra a carne, contra os desejos, as orações intermináveis, o compromisso. Suian e Roberto tinham um amor puro e agüentaram tudo sem desistir nos três anos de namoro e no um de noivado; resistiram até o fim. E hoje estavam ali, puros a espera do grande momento em que aguardaram por tanto tempo. Suian se orgulhava do seu vestido branco, e sentia-se feliz por ele estar representando a verdade no corpo dela – a pureza.
Enquanto andava até o altar, de braços dados com seu pai, observava cada pessoa que estava ali para prestigiar o seu momento. Viu Adriana, sua amiga de anos, que não parava de chorar, sempre acreditara que a amiga conseguiria chegar naquele momento e se emocionava por isso. A noiva lembrou que os planos de sua querida amiga também tinham sido os mesmos um dia, mas depois que conheceu Lucas, bem.. seus planos mudaram um pouco de direção, em um ano e meio de namoro engravidou e hoje, aos 22 anos, sua filhinha tem sete anos e ela só fala com o pai da garotinha – que há oito anos atrás Adriana dizia ser o amor de sua vida pra sempre – por telefone e olhe lá, e ainda assim só pra acertar assuntos sobre a filha, e quando entram em algum desacordo o que resulta é uma bela discussão, regada a palavrões e insultos.
Mais a frente Suian avistou Marta, outra amiga de adolescência, que tinha marcada no olhar uma dor, uma dor visível a quem é que quisesse ver. Marta que sempre fora pavio curto, não agüentou os limites do pai na adolescência e fugiu de casa aos quinze anos, a partir daí não quis mais se importar com nada que lembrasse a decência. Envolveu-se com caras que não prestavam e não se importava em nutrir relacionamentos duradouros e compromissados, só queria ‘’curtir’’ a vida, aproveitando de tudo que os jovens acreditam ser a diversão. Tratou as pessoas como descartáveis, se entupiu de tóxicos e acabou sozinha, dependente, sem ninguém que se preocupasse de verdade com ela. Tentou suicídio por duas vezes e não conseguiu, acabou aceitando a ajuda da família e foi para uma clínica de reabilitação e hoje está tentando vencer os vícios, mas acabou contraindo uma HIV e além de lutar contra suas dependências, ainda precisa de muita força de vontade para prosseguir com o tratamento contra a doença e manter-se viva.
E lá no altar Suian viu outra grande amiga da época do colégio, que agora era sua madrinha de casamento, Noemi. E ao lado dela, Daniel, seu marido. Percebeu mesmo de longe, uma grande mancha roxa um pouco abaixo do olho esquerdo de Noemi, a maquiagem não deve ter conseguido disfarçar – mais uma vez, pensou Suian. A noivinha não se agradou nada, nada de que Daniel fosse o seu padrinho, mas como ela havia prometido desde o ensino fundamental que quando casasse Noemi seria a sua madrinha e como ela era uma grande amiga, não podia a deixar de fora – e nem queria. O que não queria na verdade, era o marido dela, mas fazer o quê, era marido, tinha que fazer par com ela. Noemi começou a namorar Daniel no primeiro ano do ensino médio e estavam juntos até hoje, mas ele sempre foi extremamente machista e preconceituoso, e além de já ter começado com suas agressões na época do namoro. As amigas tentavam abrir seu olho, mas Noemi nunca quis escutar ‘’Eu o amo demais gente!’’ era só o que sabia falar, e hoje, depois de tantos anos ao lado dele tornou-se dependente. Daniel não a deixa trabalhar, agride a ela e aos filhos e além de não ter o menor respeito, ainda mantém casos fora do casamento e todos sabem, só Noemi que finge não ver. E quem sofre com esse lar debilitado são as três crianças, que não tem um carinho sequer da representação masculina da família.
E por último viu Joana, que também estava no altar como madrinha, ao lado de seu noivo. Uma menina jovem e bonita, que havia encontrado um incrível homem que hoje a tratava como princesa. Só que Joana sofria com sua própria consciência, por ter se entregado a tantos amorzinhos adolescentes e feito até relações sexuais com alguns e hoje, tem um noivo perfeito ao seu lado, que a esperou da forma mais pura possível e ela não podia o retribuir da mesma forma. Sentia-se triste por não ter se guardado só pra ele, mas agora tentava levar um namoro bucólico, com base no que realmente era o certo para uma serva de Deus e para uma vida com certeza de felicidade.
Quando faltavam poucos passos para que Suian chegasse até o altar, olhou para seu lindo noivo e seus olhos se encheram de lágrimas. Fez uma oração agradecendo a Deus por ter a ajudado a superar tudo, desde as suas próprias tentações até os clichês dessa sociedade cada vez mais sexualizada; por ter conseguido passar pelas mesmas propostas e situações tentadoras que suas amigas, mas ter resistido e sendo abençoada com muita sabedoria, soube decidir o que era o mais correto e hoje não tinha do que se queixar, muito pelo contrário, só agradecer. E ainda de poder ter entrado de branco na igreja e com a consciência mais clara ainda de que sim, ela havia se guardado pra um homem só.
‘’Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu. ‘’
Eclesiastes 3: 1