Havia, numa nada pacata cidade de interior, uma igreja que tinha um número bom de jovens. E eram jovens cheios de paixão pelo Senhor. Esses jovens organizaram uma cantata e sem muito tempo para grandes ensaios, trabalharam duro e deram seu melhor. Não se continham de expectativa em agradar a Deus no grande dia da ministração. E o dia chegou. E foi benção. E adoraram a Deus. E tiveram grandes experiências.
Os meses se passaram e no mesmo ano, esses jovens decidiram fazer outra cantata. Da mesma forma trabalharam, deram duro e em três meses ali estavam eles para ministrar outra vez. A princípio, seria somente um dia de ministração da cantata como na anterior, mas alguém deu a ideia de fazerem em dois dias, sábado e domingo. E alguém já direcionado por Deus.
O primeiro dia da segunda cantata do ano chegou e todos estavam alegres. Passaram o dia todo na igreja arrumando a iluminação e dando os últimos retoques no som, música e tudo mais. E finalmente o relógio marcou: 19:30 e a cantata começou. Só que algo estava errado. Algo estava desconjuntado. As falas do teatro se embolaram. O coral errou a entrada logo na primeira música! A caixa de som do retorno gerou inúmeras microfonias de estourar os tímpanos de qualquer um, e depois ainda parou de funcionar. E por isso o som geral diminuiu, o grupo ficou sem referência e todos ficaram inseguros. Por não ouvir direito a referência, o coral errou gravemente outra entrada de música. Ao chegar ao fim, a maestrina colocou as mãos nos olhos e chorou. O grupo todo se frustrou. E ao ir lanchar depois de terminado o culto, eles conversavam. Rolaram até lágrimas.
O que aconteceu?? O que aconteceu?! Hum. O trabalhar de Deus, isso que aconteceu. Duas situações aconteceram ao grupo: Metade foi insegurança porque agora eles tinham uma aula de canto e aprenderam muitas técnicas a serem aplicadas e estavam com receio de “errar” e sem contar a preocupação com que toda a igreja ia achar. A segunda foi o “salto alto”, ou seja, a confiança de achar que sairia tão “bom” quanto da última vez. Mas o que o grupo havia se esquecido, é que da última vez eles foram com a humildade pura de quem não sabia muito, mas estava disposto a adorar a Deus com o que tinha. E se esqueceram também que da última vez eles foram preocupados mais com o que Deus ia achar do que com o que os homens iam achar. Na primeira cantata, aconteceram erros de som, mas pra cada um deles era aquela coisa natural do “acontece; não vamos perder o foco do porque estamos aqui”, já na segunda cantata cada erro era como um tiro no coração, que fazia o grupo até recuar, na maneira figurada de dizer.
E foi nítido o aprendizado. E foi nítido o trabalhar de Deus na humildade, na dependência. “Ei, vocês não são nada sem Mim não, ein. Podem ter a voz mais perfeita do mundo, a referência melhor possível, encher os olhos dos homens, mas se não fizer brilhar os meus, de nada vai adiantar” E foi como um baque. O ministério todo, cada um em sua mente “Deus trabalhou”, e aí eles puderam aprender que quando se preocupa muito com o que homens vão pensar, com muitos detalhes técnicos, arrumações, afinações e tudo mais (não que isso não seja necessário, porque é e muito, devemos fazer a obra com excelência, mas nunca deixar isso ultrapassar o foco principal da adoração ao Pai) e tira-se o foco do principal que é a adoração a Deus.. as coisas saem como saíram. O grupo errou coisas que nem nos ensaios haviam errado e com isso Deus mostrou mais uma vez quem é que manda. Não porque Ele precise esfregar na cara da gente que Ele é o maior de todos, o Soberano, o Dono de tudo; mas porque a gente precisa aprender isso pra poder viver uma vida de humildade, amor e dependência dEle. E situações como essa precisaram acontecer ao grupo pra eles verem que sem Deus não rola, não vai, não engata. Deus tem um coral de anjos com uma afinação perfeita e harmonia sem igual só pra Ele o tempo todo e porque circunstâncias Ele sairia desse lugar extraordinário pra poder se mover no meio dos louvores do Seu povo (Sl 22.3)? Só se esses louvores forem de coração, em Espírito e em Verdade. Só se esses louvores tiverem uma essência de amor tão grande a ponto do Criador do Universo se mover nele. Mas e se forem só músicas com letras de adoração, mas que quem canta está preocupado mais com a afinação, se o som está bom, o porque da caixa de som estar dando problema... sinceramente? Ele passa longe de algo assim.
Mas o grupo aprendeu. Ô se aprendeu. E a maestrina, no segundo dia de cantata, horas antes do início, ainda ousou ir além e propor a pergunta: “E se hoje acontecer que nem ontem? Com todas as falhas? Estaríamos dispostos a cantar mesmo assim?” Que difícil...mas aí o que veio à mente naquele momento foi: Se for de coração e se os louvores forem verdadeira adoração, podem acontecer os maiores erros técnicos do mundo, que Deus não vai ligar. E nem eles. O objetivo primordial deveria ser adorar e ser usados por Deus através dessa adoração pra tocar ao menos um coração que fosse. E a maestrina ainda se atreve a mais e disse: “E se a luz acabar no meio da cantata? Nós vamos continuar louvando, porque o que a nossa adoração depende é do coração disposto a louvar ao nosso Rei, ou vamos “tremer na base” porque o instrumental acabou?”
E nas horas que se seguiram, tudo foi diferente. O teatro fluiu como pessoas que estavam ali gritando em espírito “Glorificado seja o Seu nome Senhor!”, apesar das falas serem totalmente diferentes disso. E no início da primeira música a energia acabou. E eles continuaram louvando, com a certeza de que sim, Deus estava ali e nada ia parar aquela adoração.
Todo o ministério terminou o projeto da cantata bem diferente de como havia entrado. E Deus realmente trabalhou nas vidas e provou mais uma vez que a adoração é algo importante, sério, de coração e mais gratificante do que qualquer outra coisa no mundo. E mais, ensinou que a adoração também é mais do que só cantar...ela é o mover da vida. Porque se o autor da vida se move nela... E mover de vida gerada em cada ação em nossas vidas, por mais mínimas que forem.
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